Usuários do Centro de Convivência do Idoso enfrentam os desafios do envelhecimento com ginástica, teatro, oficina da memória, informática, bailes e revertem solidão, depressão e problemas de saúde
O Programa de Atendimento ao Idoso do Centro de Convivência do Idoso, vinculado à Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Valinhos, completará 40 anos no próximo dia 28. Nas quatro décadas, o espaço foi palco de diversas ações que contribuem para o envelhecimento saudável e para a valorização do ser humano. Muitas histórias começaram pela ausência de companhia e problemas de saúde. Mas hoje os idosos comemoram vitalidade e ensinam a receita.
O Centro do Idoso representa um divisor de águas na vida da moradora da Vila Santana, Angelina Barbarini Marcucci, que há mais de 30 anos faz ginástica com o grupo de idosos, hoje descentralizado, com atividades no salão comunitário da igreja local. No dia 26 deste mês, ela comemora 100 anos. “Estou surpresa. Não esperava que elas iriam fazer uma festinha pra mim. Não precisava, mas estou muito contente”, comentou dona Angelina sobre a celebração que o grupo organizou para ela.
Segundo ela, a longevidade se deve a sua resistência, a fé em Deus e ao hábito de se cuidar sempre. “Faz muito bem vir aqui [na ginástica]. A Cláudia [professora] é uma filha e tenho muitas amigas aqui”. Dona Angelina perdeu o filho único, Odair, e o marido José Orlando. Durante a pandemia perdeu a irmã. “Hoje só tenho meu irmão vivo, o Nivaldo, que tem 98 anos e mora em Hortolândia”, acrescentou.
Outro ingrediente é a felicidade. “Sou uma pessoa feliz. Só tomo remédio para pressão alta e algumas vitaminas que o doutor Rui Meireles [idealizador do Centro do Idoso] recomendou”, revelou. Recentemente, ela sofreu uma queda. “Ainda estou dolorida. Por isso, não dá pra mexer muito na ginástica”, explicou ela. Antes da pandemia, ela estava mais ativa, inclusive dançando em eventos do CCI, participando de palestras e das excursões.
A carona para ir à ginástica é por conta da amiga Maria Aparecida Pelaquini, de 76 anos, frequentadora da ginástica e da hidroginástica do Centro do Idoso há 16 anos. “Quando eu comecei a frequentar o local, ela já vinha às aulas. Quando eu chego aqui, todo mundo vem ajudar para ela descer do carro. Para mim, é como se ela fosse minha mãe”, contou.
Já dona Benedita Maria de Jesus tem 99 anos – fará 100 anos em setembro. Moradora do Jardim Centenário, ela frequenta o espaço desde os 60 anos de idade. “Adoro dançar na quadrilha e no carnaval do Centro do Idoso. Sou festeira”, admite. Atualmente, ela frequenta as aulas de hidroginástica e da oficina da memória. No início do mês, durante a palestra de hipertensão, ao aferir sua pressão estava com 13 x 7. Segundo a enfermeira e palestrante Raquel Lana, está muito bom.
“Vivo feliz. Aqui no Centro do Idoso tudo é ótimo. O pessoal é bacana, tem bastante atividade e a gente passa o tempo. Tem que se movimentar. Não pode ficar parado”, receitou. Ela tem oito dos 13 filhos vivos, com mais de 30 netos, além dos bisnetos e tataranetos. “Convido para que os idosos venham pra cá. Vão viver mais e melhor”, garantiu.
A usuária Maria de Lourdes Querino Videira, de 65 anos, moradora do Jardim Paraíso, frequenta há cinco anos o espaço. “Procurei por saúde e para enfrentar a timidez. Comecei com informática e depois fui para a ginástica. Hoje faço teatro, crochê e hidroginástica também”, afirmou. Quando chegou ao Centro do Idoso, ela tomava três remédios para diabetes, pesava 85 quilos e sofria com a perda do marido. “Encontrei uma família aqui”.
Os resultados dos incentivos foram a diminuição de três para um medicamento, por indicação médica, a redução no peso para 70 quilos e o aumento da autoestima. “Melhorou tudo. Melhorei também a alimentação, faço caminhada. Aqui eu recebi muito incentivo. Não sabia que a atividade física pudesse impactar tanto”, admirou. Além do físico, ela garantiu que renasceu com a rotina do espaço. “Tenho muita gratidão por todos aqui. As pessoas deveriam vir aqui”, recomendou.
Há um ano e meio, o morador da Vila Santana Nestor Castelo Branco Neto, de 68 anos, passou a frequentar o local. “Minha filha quem indicou, após o falecimento da minha esposa há três anos”, iniciou. Conforme ele, começou com a Oficina da Memória e hoje já faz parte do grupo de ginástica. “Aqui é um lugar que faz bem. Me sinto relaxado. É bom mexer com o corpo e a mente”, assegurou.
Com controle do colesterol e do coração, Nestor afirmou que não tem muitos problemas de saúde. “Sempre me movimentei, mas aqui a cabeça melhora para a sociabilização”, avalia ele, que foi, pelo Esporte Clube Pinheiros, o segundo melhor tempo em 100 metros no Estado de São Paulo, na década de 70, e depois para o treinamento de vólei. Com formação em Engenharia Mecânica, ele tem parentesco com o ex-presidente do Brasil, Humberto de Alencar Castelo Branco. “Ele era avô do meu avô Nestor Castelo Branco”, esclareceu.
Um dos mais novos integrantes do Centro do Idoso é Valdionior Moura dos Santos, de 97 anos, que chegou no final do mês passado na cidade, vindo de Curitiba (PR). Já se inscreveu no programa dos idosos, nos jogos de salão e na ginástica. Além de participar das atividades, ele quer ensinar um jogo. “Se quiserem aprender, eu posso ensinar a jogar dama chinesa”, adiantou ele, que está morando com um dos filhos.